domingo, 11 de dezembro de 2011

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O cavaleiro inexistente

Mais uma vez, Calvino e eu.
É um daqueles livros que emudecem, e que alimentam, e que dizem o que havia para ser dito. E pronto. Não quero dizer mais nada. Não preciso dizer mais nada. Não quero ter opinião.
Faço silêncio. Reservo-me ao silêncio.
E nessa reserva, vou ler O Barão nas árvores, do mesmo Calvino... Malcriada que sou, abro mão da dissecação da obra e pulo para outra leitura...




sábado, 1 de outubro de 2011

Estações


De dentro do quarto, ouço o farfalhar das folhas.
O frio do inverno permanece lá fora... Mas já é primavera aqui dentro. O lençol floral e o jardim de roupas coloridas espalhadas pelo chão me dizem isso.
Sim, meu amor, é primavera, e eu te amo (mas sob os nossos lençóis é sempre verão, né?)


sábado, 24 de setembro de 2011

Muda


"Tudo que vale a pena na vida ou é roubo ou é regalo". Esse é o pensamento de um amigo, me contou o professor.
E eu, o que roubo? O que regalo? 
Faladeira que sou, tagarela desde criança, de repente, me vejo emudecida, sem palavras.E eu, o que roubo? O que regalo?
Vejo apenas minhas mãos vazias... E afundo no silêncio abissal do meu pensamento... 
 
 
 
 

sábado, 20 de agosto de 2011

Papo de leitora



A menina chegou da escola esbaforida. Jogou a mochila no chão e logo entabulou uma conversa com a irmã:

- Tenho uma boa e uma má notícia.

- Hum?

- Já li os textos do livro de português quase todos.

- Essa é a boa ou a má notícia?

- Nem uma coisa, nem outra.

- Hã?

- A boa notícia é que eu gostei dos textos.

- Que bom! Tem algum da Ruth?

- Não. Não tem nenhum dela, mas eu descobri autores novos. E fiquei com muita vontade de conhecer os livros de onde as histórias saíram.

- É uma boa notícia mesmo... E qual é a má?

- Fui visitar a biblioteca da escola.

- E por que isso é uma má notícia?

A menina respondeu tristonha:

- Porque a biblioteca não é uma biblioteca. Tem uma placa na porta da sala, mas lá dentro só tem cadeiras; nenhum livro.

- Que triste...

- É... Eu não entendo... Se os textos do livro de português deixam a gente com vontade de conhecer as histórias até o fim, os livros com essas histórias completas não deveriam estar na biblioteca da escola, para a gente ler?


...para uma pequena grande leitora ;-)

domingo, 14 de agosto de 2011

De Pessoa

"Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me neles. Houve quem os escrevesse, e fui eu. Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse despertado agora de um sono alheio.
"É freqüente eu encontrar coisas escritas por mim quando ainda muito jovem – trechos dos dezessete anos. E alguns têm o poder de expressão que me não lembro de poder ter tido nessa altura da vida. Há em certas frases, em vários períodos, de coisas escritas há poucos passos da minha adolescência, que me parecem produto de tal qual sou agora, educado por anos e coisas. Reconheço que sou o mesmo que era. E, tendo sentido que estou hoje num progresso grande do que fui, pergunto onde está o progresso se então era o mesmo que hoje sou.
"Há nisto um mistério que me desvirtua e oprime".

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Flashback

by Deviantart
Com a caixa de recordações no colo, olhava fotografias (algumas amareladas pelo tempo, todas com marcas de impressões digitais, que indicavam os muitos toques), relia cartas e, presa num flashback, tinha medo de criar novos enredos, de viver novas histórias.

domingo, 31 de julho de 2011

Do que eu não sei


... um cheiro que perfuma minha alma, incendeia meu desejo, e que nunca esteve em minha pele...
“e é só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi”


quarta-feira, 6 de julho de 2011

Reflexos

Tez limpa.
Pele nua.
Carne crua.
Cara a cara.
Olha-me nos olhos e perscruta-me:
- Quem és?
- Quem sou?
- O que és?
- O que sou?
De quem é esse rosto? De quem é essa face? O que é esse rosto?
Conheço, mas não reconheço... Ou reconheço que não me conheço?!
Deleito-me com o que vejo, e reconheço que me espanto no que conheço ao comparar o fui e o sou.
Reconheço no que fui o que me tornou. E sendo eu mesma outra no futuro e no passado... sendo, sou presente eu mesma.

domingo, 19 de junho de 2011

Cama de casal

Definitivamente, eu detesto cama de casal.
E detesto a ideia de que essa cama, hoje minha, um dia foi nossa.
E fico pensando no que falta, em vez de aproveitar o espaço que sobra.
Acho que vou jogar essa cama pela janela e depois comprar uma solteiríssima estreitíssima para colocar no lugar dela.
Prefiro sentir falta do espaço do que sentir falta de você.

domingo, 15 de maio de 2011

Fim?



Outra dia, andei lendo algumas coisas de física (como pessoa leiga que gosta de história da ciência). E, para variar, fiquei ruminando, pensando cá com os meus botões... Mas, dessa vez, as minhas divagações se dirigiram para um assunto sobre o qual as pessoas gostam de falar pouco (ou pelo menos eu gosto de falar pouco): o fim. Não tem nada a ver com 2012, e sim com o fim de cada um  e de todos .
Já parou para pensar que a gente começa a morrer quando a gente nasce? Que a morte está intrínsecamente ligada à vida? Eu já havia pensado nisso, mas isso nunca havia me ocorrido de uma forma tão dura; isso nunca havia me tocado de uma forma profunda.
Fiquei pensando nas frutas, e cheguei à conclusão de que somos como elas. Os nossos ciclos de vida são muito parecidos!
Imagine uma fruta... Uma manga, por exemplo. A manga nasce, miudinha, verdinha... vai crescendo... crescendo... sua coloração vai mudando... atinge uma fase em que está em sua melhor forma... torna-se um fruto robusto e cheiroso, com sua casca lisinha... e ali, ainda no pé, a coloração vai mudando... a casca enrugando... a robustez se esvaindo... até o ponto em que não há mais força para manter-se unida à mangueira, onde nasceu e viveu, e terminar no chão, no solo, tragada (ou acolhida) pela terra... É esse o seu ciclo, iniciado no momento em que começou a existir... O organismo que abriga a potência do começo (da vida), também abriga a potência da fim (da morte)...
E nós somos assim. E tudo na natureza é assim... ou quase tudo...
Intrigam-me as árvores. Embora sintam e apresentem os traços do tempo, elas não morrem de morte de morrida. As árvores nascem, crescem, se reproduzem e... se renovam! Sempre.
Acho que eu preferiria ser árvore. Acho. Não sei.
Volto a pensar na manga. Depois de acolhida pela terra, ela poderá originar uma nova mangueira... ela carrega em si a potência de uma nova árvore... e a àrvore não morre!
Será que isso é a vida eterna?

sábado, 7 de maio de 2011

No museu

Visitando dois museus de uma capital aqui do Brasil, tive vontade de conversar com os seguranças que trabalhavam neles. Em um deles, conversei com um senhor que ali trabalhava há mais de dez anos e com um rapaz mais novo, que estava neste emprego há alguns meses. Dentre outras coisas, na simpática prosa que engatei com um de cada vez, perguntei-lhes o que achavam de trabalhar ali. O primeiro respondeu que era um privilégio estar perto de obras tão importantes e começou a falar-me sobre sua preferência pelos quadros de Renoir. O segundo disse que era muito bom ver de perto obras sobre as quais ouviu falar na escola e que estar ali era uma aula de história. Citou um dos quadros, dizendo que tinha visto sua imagem em um livro de literatura no Ensino Médio. No outro museu, também conversei com duas pessoas, um rapaz e uma moça. Ela estava ali há dois anos e ele há alguns meses. Ao fazer a mesma pergunta do museu anterior, a reposta de ambos, um por vez, selou as conversas num “É legal”.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Acordou com vontade de mar.
Não era vontade de praia, era vontade de mar, que são coisas bem diferentes.
Queria o calor morno da areia, uma sombra, o silêncio do mundo e o canto das ondas quebrando.
Queria a imensidão do vazio, a ausência de todos, a presença de si mesma... e todo tempo do mundo para ficar assim...



domingo, 6 de março de 2011

Elogio

Ô vidinha trivial, trivial demais: feijão, bife, arroz e batata frita.
Cansei do cotidiano, Chico. Todo dia ela faz tudo sempre igual!!
Vamos fugir? Vamos fugir desse lugar?
Meu Deus, pra que é que eu fui crescer?!?!?!
Quero voltar para a Terra do Nunca.
Por que é que eu soltei sua mão, Peter?

Image by Saxton Freymann

domingo, 23 de janeiro de 2011

Só tu

(Arrumando gavetas, olha só o que eu encontro...)

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!
Mas tu - que rude contraste! 
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nestalma, ficaste,
De todas as que eu amei. 

                 Paulo Setúbal

(... será que todo mundo tem um amor inesquecível?)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O médico e o monstro



Até bem pouco tempo atrás, para mim, O médico e o monstro se referia apenas ao texto de Paulo Mendes Campos, que li quando criança. Naquela tenra idade, nunca tinha ouvido falar Robert Louis Stevenson, nem imaginava a intertextualidade existente entre a novela do escocês e a crônica do brasileiro.
O texto de Campos é uma boa lembrança em minhas memória de escola (ou, melhor, todo aquele volume da coleção Para gostar ler), e se antes já gostava dele, agora gosto mais ainda. Mas, vamos ao texto de Stevenson.
Um excelente estilo narrativo, um mistério envolvente, um suspense crescente, segredos guardados em evelopes lacrados, a medida certa para aguçar a curiosidade.
Dr. Henry Jekyll, médico conhecido e respeitado por suas virtudes, morais e profissionais, na Londres do século XIX. Edward Hyde, sujeito apavorante, presença aterrorizante, a ausência de tudo que é considerado virtuoso; uma aparição do demônio. Dois seres totalmente diferentes, física e psicologicamente. E uma ligação misteriosa ente os dois, o virtuoso e o outro desprezível. E é essa ligação que inquieta e intriga o Sr. Utterson, advogado e amigo de Jekyll.
Acompanhando Utterson, o leitor se emaranha na trama dessa obra meio fantástica, meio ficção científica. E, cada vez mais, as inquietações do advogado passam a ser suas: o que se passa ente Jekyll e Hyde? Quem é Hyde? Junto com Utterson, descobrimos que Hyde é Jekyll, e que Jekyll é Hyde. Não são dois, mas um só, uma pessoa só.
Movido pelo desejo de experimentar coisas que a sua vida regida pela moral e pelos bons costumes – civilizadinha, certinha, castinha, boazinha – não permitia, o Dr. Jekyll criou uma poção que libertava o seu lado animalesco e perverso, e o transfigurava em um outro eu diametralmente oposto: Hyde, que fazia tudo aquilo que Jekyll não se permitia.
É a história do ser humano que quer ser civilizado, mas se atormenta com o seu lado animalesco reprimido em nome dessa mesma civilidade desejada. É a culpa e o senso de responsabilidade – aprendidos, diga-se de passagem – lutando com o desejo de experimentar uma vida de prazeres intensos, livres de restrições e convenções, do ódio sem culpa, de desejos violentos. A tal poção não criava nada novo, só colocava para fora aquilo que já existia em Jekyll, aquilo que era Jekyll: Hyde (e algum leitor de Freud vai dizer: Id e Super Ego! O duelo psíquico da teoria freudiana) 

Como diria Nietzsche, humano, demasiado humano…



P.S. Não considero uma boa idéia lê-lo antes de dormir. Se começar, estará correndo o grande risco de trocar suas horas de sono por uma envolvente e sedutora leitura, que você só vai querer largar no fim...