sábado, 20 de agosto de 2011

Papo de leitora



A menina chegou da escola esbaforida. Jogou a mochila no chão e logo entabulou uma conversa com a irmã:

- Tenho uma boa e uma má notícia.

- Hum?

- Já li os textos do livro de português quase todos.

- Essa é a boa ou a má notícia?

- Nem uma coisa, nem outra.

- Hã?

- A boa notícia é que eu gostei dos textos.

- Que bom! Tem algum da Ruth?

- Não. Não tem nenhum dela, mas eu descobri autores novos. E fiquei com muita vontade de conhecer os livros de onde as histórias saíram.

- É uma boa notícia mesmo... E qual é a má?

- Fui visitar a biblioteca da escola.

- E por que isso é uma má notícia?

A menina respondeu tristonha:

- Porque a biblioteca não é uma biblioteca. Tem uma placa na porta da sala, mas lá dentro só tem cadeiras; nenhum livro.

- Que triste...

- É... Eu não entendo... Se os textos do livro de português deixam a gente com vontade de conhecer as histórias até o fim, os livros com essas histórias completas não deveriam estar na biblioteca da escola, para a gente ler?


...para uma pequena grande leitora ;-)

domingo, 14 de agosto de 2011

De Pessoa

"Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me neles. Houve quem os escrevesse, e fui eu. Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse despertado agora de um sono alheio.
"É freqüente eu encontrar coisas escritas por mim quando ainda muito jovem – trechos dos dezessete anos. E alguns têm o poder de expressão que me não lembro de poder ter tido nessa altura da vida. Há em certas frases, em vários períodos, de coisas escritas há poucos passos da minha adolescência, que me parecem produto de tal qual sou agora, educado por anos e coisas. Reconheço que sou o mesmo que era. E, tendo sentido que estou hoje num progresso grande do que fui, pergunto onde está o progresso se então era o mesmo que hoje sou.
"Há nisto um mistério que me desvirtua e oprime".

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Flashback

by Deviantart
Com a caixa de recordações no colo, olhava fotografias (algumas amareladas pelo tempo, todas com marcas de impressões digitais, que indicavam os muitos toques), relia cartas e, presa num flashback, tinha medo de criar novos enredos, de viver novas histórias.