Toc, toc, toc, toc. Era o que ouvia ao sentir o impacto do salto do sapato contra a dureza da calçada de concreto no seu passo rotineiro e apressado.
Uma fenda mínima na passarela de concreto atravancou o seu passo, descompassou o compasso. Com o susto de quase ir ao chão, ela parou. O coração acelerou. Respirou fundo.
Naquela manhã de sol ameno, o vento roçava as folhas das árvores do outro lado da calçada. Entre uma e outra, um matiz de luz e sombra. Na linha do horizonte, entendeu porque uma reta é um conjunto de pontos infinito. Pensou no trabalho, nas quatro paredes, na ausência do sem fim... e não teve vontade de ir. Pensou em ficar ali.
Tum, tum. Tum, tum. Tum, tum. Ouvia seu coração pulsar de par em par...
E num acesso de irresponsabilidade, e num amplo desejo de liberdade, mudou o caminho, atravessou a rua, desviou a rota. Escutou os passos do seu sapato sobre folhas secas. E cansou-se de olhar o mundo de salto alto.
De pés no chão, sentiu a terra entre os dedos. Abriu os braços. Tirou o vento para dançar. E ao som de pássaros, celebrou a vida.