quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Acertando as contas com velhos fantasmas

Outro dia eu li A dança do universo, livro no qual Marcelo Gleiser apresenta a leitores leigos de que maneira a física contemporânea vê o mundo e os caminhos que ela percorreu antes de vê-lo desse modo (maravilhoso, recomendo!).

A leitura foi um reencontro com velhos fantasmas - sim, eles sempre pareceram de outro mundo - que assombraram minha vida de estudante, no ensino médio, com leis, fórmulas e cálculos intermináveis. Tal reencontro permitiu que, em meu imaginário, personagens como Newton, Lavoisier, Bohr, Einstein, entre outros, perdessem seu caráter espectral e se tornassem gente de carne e osso. Em outras palavras, percebi que as fórmulas matemáticas e os conceitos não “caíram do espaço sideral” – apesar de terem “caído de pára-quedas” sobre mim na escola –, nem vieram do nada; antes são frutos de experiências vividas, advém da curiosidade de pessoas que tentaram compreender o funcionamento do mundo em determinados tempos/espaços. Infelizmente, estas questões não foram exploradas durante as minhas aulas de Física. Se fossem, acredito que ela deixaria de ser um “bicho-papão” e passaria a fazer sentido para mim e meus colegas.

Há beleza em compreender uma fórmula relacionando-a com as inquietações e interrogações de seu criador, relacionando-a com os movimentos e processos dos quais ela é uma consumação. Uma fórmula é uma sistematização lógica de um movimento de curiosidade, especulações, perguntas e até mesmo de angústias. É uma sistematização matemática de um entendimento de funcionamento de mundo.

Ao término da leitura eu estava com muita raiva dos meus professores e de mim. Dos professores por não terem me permitido ver a beleza da física (talvez nem eles soubessem de tal beleza); de mim por não ter aproveitadoa física como mais uma referência para a compreensão do mundo.


Fiz as pazes com a Física. No lugar da aversão à disciplina ficou uma "saudade que eu sinto de tudo que ainda não vi"...