domingo, 23 de janeiro de 2011

Só tu

(Arrumando gavetas, olha só o que eu encontro...)

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!
Mas tu - que rude contraste! 
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nestalma, ficaste,
De todas as que eu amei. 

                 Paulo Setúbal

(... será que todo mundo tem um amor inesquecível?)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O médico e o monstro



Até bem pouco tempo atrás, para mim, O médico e o monstro se referia apenas ao texto de Paulo Mendes Campos, que li quando criança. Naquela tenra idade, nunca tinha ouvido falar Robert Louis Stevenson, nem imaginava a intertextualidade existente entre a novela do escocês e a crônica do brasileiro.
O texto de Campos é uma boa lembrança em minhas memória de escola (ou, melhor, todo aquele volume da coleção Para gostar ler), e se antes já gostava dele, agora gosto mais ainda. Mas, vamos ao texto de Stevenson.
Um excelente estilo narrativo, um mistério envolvente, um suspense crescente, segredos guardados em evelopes lacrados, a medida certa para aguçar a curiosidade.
Dr. Henry Jekyll, médico conhecido e respeitado por suas virtudes, morais e profissionais, na Londres do século XIX. Edward Hyde, sujeito apavorante, presença aterrorizante, a ausência de tudo que é considerado virtuoso; uma aparição do demônio. Dois seres totalmente diferentes, física e psicologicamente. E uma ligação misteriosa ente os dois, o virtuoso e o outro desprezível. E é essa ligação que inquieta e intriga o Sr. Utterson, advogado e amigo de Jekyll.
Acompanhando Utterson, o leitor se emaranha na trama dessa obra meio fantástica, meio ficção científica. E, cada vez mais, as inquietações do advogado passam a ser suas: o que se passa ente Jekyll e Hyde? Quem é Hyde? Junto com Utterson, descobrimos que Hyde é Jekyll, e que Jekyll é Hyde. Não são dois, mas um só, uma pessoa só.
Movido pelo desejo de experimentar coisas que a sua vida regida pela moral e pelos bons costumes – civilizadinha, certinha, castinha, boazinha – não permitia, o Dr. Jekyll criou uma poção que libertava o seu lado animalesco e perverso, e o transfigurava em um outro eu diametralmente oposto: Hyde, que fazia tudo aquilo que Jekyll não se permitia.
É a história do ser humano que quer ser civilizado, mas se atormenta com o seu lado animalesco reprimido em nome dessa mesma civilidade desejada. É a culpa e o senso de responsabilidade – aprendidos, diga-se de passagem – lutando com o desejo de experimentar uma vida de prazeres intensos, livres de restrições e convenções, do ódio sem culpa, de desejos violentos. A tal poção não criava nada novo, só colocava para fora aquilo que já existia em Jekyll, aquilo que era Jekyll: Hyde (e algum leitor de Freud vai dizer: Id e Super Ego! O duelo psíquico da teoria freudiana) 

Como diria Nietzsche, humano, demasiado humano…



P.S. Não considero uma boa idéia lê-lo antes de dormir. Se começar, estará correndo o grande risco de trocar suas horas de sono por uma envolvente e sedutora leitura, que você só vai querer largar no fim...